domingo, 12 de agosto de 2012

LIVRO DO DESASSOSSEGO

230.

       A arte é um esquivar-se a agir, ou viver. A arte é a expressão intelectual da emoção. O que não temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-lo em sonho, e é com esse sonho que fazemos a arte. Outras vezes a emoção é a tal ponto forte que, embora reduzida a accção, a acção, a que a reduziu não a satisfaz; com a emoção que sobra, que ficou inexpressa na vida, se forma a obra de arte. Assim, há dois tipos de artista: o que exprime o que não tem e o que exprime o que sobrou do que teve.

                                                             Composto por Bernardo Soares ajudante de guarda livros na 

                                                             cidade de Lisboa.

                                                                                                        Fernando Pessoa



quinta-feira, 14 de junho de 2012

O ATOR SUPREMO

Nem existe um elemento sequer que pode fugir ao meu olhar. Tudo que estiver ao meu alcance, esta constantemente sendo observado.
O critério do qual eu permaneço sempre em transe, são dois fatores. Um a Beleza, representado pela forma feminina; de uma mulher; e de uma especial esparge em todas as outras mulheres belezas similares, e em toda beleza passiva, como a natureza, as flores e campos e outras formas; é nada mais que um fragmento pequeno da beleza feminina no mundo. Dois; o outro fluxo é a canção.
A canção ele me traz pensamentos de coisas que eu já existir, existo e existirei. Ela traz um tipo de lembrança de mim mesmo. do meu próprio ser, num fluxo constante em que minha emoção, é emoção mesmo, e não mera imitação.
Onde meu choro, de alegria ou de tristeza; meus sorrisos também de alegria ou desdém; são de verdade mesmo. Embora acima dê eu ser verdadeiro, me faço também o melhor dançarino, e com certeza o ator supremo.